Idioma e anonimato dificultaram adaptação de Sylvinho no exterior
Negociado aos 24 anos, ex-lateral se mudou para Inglaterra sem falar uma palavra em inglês. Sem amigos, evitava encontrar os jogadores no vestiário
Negociado pelo Corinthians com o Arsenal em 1999, o ex-jogador Sylvinho relembra as dificuldades que passou na Inglaterra, sem saber falar a língua local. O primeiro brasileiro a fazer parte dos Gunners imaginou que enfrentaria desafios, mas a realidade foi muito mais dura do que previa. Para o ex-lateral, o momento mais temido era o encontro com os outros jogadores no vestiário. (Veja no vídeo no link la em baixo)
É complicado, e eu não sabia falar absolutamente nada de inglês. Mas percebi que era muito mais do que o idioma, era o ciclo da amizade, o ambiente de vestiário. O vestiário no futebol é algo muito importante. Eu buscava passar a maior parte do tempo no campo, ser um dos últimos a sair para evitar esse relacionamento no vestiário. Eu sabia que as pessoas poderiam perguntar ou se aproximar e eu não iria conseguir responder nada. Então bate um pouco daquela insegurança, até mesmo de qualquer assunto. Eu ficava pensando se estavam falando de mim ou não - disse em entrevista exclusiva ao "SporTV Repórter".
Acostumado com a fama no Brasil, o ex-jogador também teve que aprender a voltar ao anonimato. Na Inglaterra, ninguém o conhecia. Ele teve que reconquistar espaço e fama.
- Quando saí do Corinthians, com 24 anos, já tinha sido três vezes campeão paulista, da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro. Chego no Arsenal, onde as pessoas não sabem quem eu sou. Não sabem nem mais ou menos a posição em que eu vou jogar. Você tem que reconquistar esse mercado.
Depois de se adaptar ao Arsenal, o lateral passou pelo Celta de Vigo e pelo Barcelona, ambos da Espanha. Em 2009, voltou à Inglaterra, para jogar no Manchester City. O sucesso no continente europeu só foi possível porque Sylvinho aprendeu a entender a cultura local e a se adaptar a ambientes diferentes.
- No início, tudo que não estava de acordo com o que tinha aprendido estava errado. Depois de um mês, comecei a perceber que eu tinha que me adaptar ao Arsenal, ao vestiário. Eu tinha que abrir mão das minhas coisas, das raízes. Eu já estava lá, o clube já tinha me contratado para ir. Então eu me esforcei ao máximo no idioma, comecei a me comunicar com as pessoas. Já arrumei um grupo de três ou quatro, tinha um argentino onde eu arrisquei as minhas primeiras palavras em espanhol. Comecei a ganhar espaço dentro do vestiário e me sentir mais à vontade.
Hoje assistente técnico do Cruzeiro, ele dá dicas para os novatos que buscam uma transferência para o exterior. (Assista à íntegra no link la em baixo)
- É muito difícil. Mas o jogador pode se preparar antes de ir. Normalmente a segunda temporada deste atleta no exterior é a boa. A primeira é de adaptação e, por mais que ele pense que vá jogar bem, a minoria consegue isso. A minoria da minoria. Para a grande maioria, a segunda temporada é a forte. O jogador vai ter que ter um período de paciência, porque ele sai de uma situação completamente diferente. Mas o atleta que tem uma cabeça forte pode superar isso com tranquilidade.